quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ela só quer planar


No fim das contas, ela é simples. É isso mesmo. Límpida, translúcida, mineral. Eu é que tento aplicar teorias loucas e mal estruturadas em seu comportamento. Sim, numa busca constante por explicações. Numa busca por aquele sorriso fácil e tentador, que volta e meia faz curva em seu rosto. Numa busca constante de porquês, que talvez nem ela procure.

Não procura porque não gosta de entrar em labirintos. Quando entra é porque se deixa levar. E sendo levada ela desmancha no ar, paira sem que ninguém a segure. Por isso, todas as teorias são inaplicáveis em seu caso.

De repente, nesses voos musicais ela se desencanta e deixa-se abater por um peso. Pronto. A lei da gravidade incide sobre seu corpo e ela volta. Retorna para o conforto clínico de alguém que tenta explicá-la. No retorno ao chão dos mortais traz o peso da angústia.

Na verdade ela não busca explicações. Só procura um conforto terreno. Um lugar onde possa descarregar o que a incomoda. Enquanto não arranja outro vento para carregá-la mais um pouquinho diverte-se com a insistência dos falsos teoremas, que tentam embrenhar-se em suas ideias.

A angústia, ela própria, sabe que não pode permanecer naquele corpo por muito tempo. De um minuto a outro é expulsa e se resigna a sair calmamente quando sente o dedo lhe tocar o ombro. O dedo de um ventinho traiçoeiro que dá as primeiras brisas leves e consegue atormentar imediatamente. Angústia foi embora e ela está planando novamente, deixando-se levar como uma fumaça, que sai da chaminé e embrenha-se no céu sem saber se é nuvem ou fumaça. Se é guiada ou está guiando. Se é ser ou somente céu.


Letícia Caroline

Um comentário:

Unknown disse...

Lindona! Adorei ver o texto aí ;)