sexta-feira, 4 de março de 2011

Saudade que é minha


O casaco que me aquece tem o cheiro da saudade que aperta o coração, que faz as lágrimas caírem de vez em quando, que tranca a voz como se fosse impossível falar. Tem em si o cheiro de quem me faz falta, do abraço que eu sonho em ganhar todas as manhãs. As mangas parecem que falam, ouço o som da TV ligada na sala, do rádio na cozinha, dos jogos do computador no quarto. Parece que me puxam pra lá, me põe sentada à mesa tomando café, cercada daquele calor, calor de casa, calor de família. A gola também fala, e sofre comigo, ouve todos os pensamentos, conversa com a minha saudade como se fosse possível remediar, como se os quilômetros fossem que nem os centímetros da régua, a um passo do abraço confidente, do colo materno, da alegria da companhia de quem é nosso a vida inteira. E se a vida inteira for regida por uma saudade dessas, serei obrigada a encher meu quarto de coisas que à eles pertencem.

Hoje em dia


O rádio desligado não diminui o barulho dessa sala. O ar frio gela o corpo, só não congela os pensamentos. Que saem janela afora, correndo pela rua, subindo em árvores. Encontram rostos conhecidos, ouvem sons que remetem lugares e pessoas. Não param. Inventam viagens e amores. Amores como aqueles de carnaval, avassaladores e irresistíveis, cheirosos e gostosos. Altos e baixos, olhos claros e escuros. Como cabelos que se envolvem no corpo, como roupa de inverno pra aquecer. O coração acelera, os olhos começam a fechar, e a imaginação voa outra vez. O interfone toca, o portão tem que ser aberto. E os sonhos, dão espaço a mesa cheia de papel, e o follow up cheio de tarefas pra realizar.