sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Virada

E ela bem que tenta. Começa e recomeça.

Muda a disposição dos móveis no quarto, troca as cortinas, compra outros incensos. O sol mantém o quarto aquecido. E ela se arruma por dentro. Tira o que está estragado, joga fora o que hoje é lixo e re-organiza o relicário chamado coração. Diante do dia lindo lá fora, com as portas do guarda roupa abertas, ela escolhe seu melhor figurino. Calça escura, uma camisa social branca. Prende o cabelo num delicado coque no lado direto e coloca em cima dele uma flor. Pronto. O resto não importa. Ela se olha no espelho e vê o que sempre foi. A insana personagem de casca endurecida pelos amores infindáveis, pelos paradigmas familiares, pelos sonhos confusos. Está pronta para mais uma dose de ventania e perdição. As vezes estar sem rumo funciona pra ela. É uma leveza difícil de entender.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cresci luar, pra não deixar de ver o sol nascer. É na hora em que eu me retiro, que a vida acontece. Ao meu lado ficam sempre. Veja o céu é cheio de estrelas, que mesmo mortas, nós continuamos a enxergar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Peneirando

As horas passam rápido demais. A TV adormece antes de eu pegar no sono. É difícil abster-se de sonhos e pesadelos. As noites eram mais leves no começo. Sentia uma leve brisa nas costas antes de mergulhar no calor das cobertas. Agora amanheço pesada. O sono me trás cansaço e fadiga. Acordar significa pensar, reagir, planejar, caminhar, ir adiante. E quando acordo nem sempre tenho a sensação de que serei forte o suficiente para dar mais esse passo. Ir um pouco mais além no caminho da vida.

Enquanto o doce panotone desce com a ajuda de uns goles de café, eu reflito. É preciso entender como o viver é realmente um caminho sem volta. Não digo que as oportunidades não baterão a sua porta, daí é força do destino, e não mais porque estes foram os teus planos.

Hoje decidi fazer mais um peneirão. A cada recomeço é preciso definir quem vai ou não estar presente no teu futuro. Aqueles que ficarão no passado e aqueles que estarão na minha formatura, no batizado dos meus filhos, nas minhas bodas de prata.

Reforçar as alianças que não exigem fidelidade, segurança, calor. O amor, como as amizades, deveria ser puro e gentil. Participar sem cobrar. Entender que mesmo não sendo pra toda vida, pode ser um remédio pra uma doença não curada, um anestésico para cortes atuais, uma prevenção para acidentes futuros. Um cervejinha gelada para as tardes de domingo, um jantar íntimo para o sábado a noite, uma boa conversa para o almoço da semana.

Um pouso forçado para a realidade. O relógio já aponta a hora de mais um passo...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dizer tchau?

Eu queria não precisar mexer em nada. Modificar nada. Mudanças, às vezes, são necessárias, mas nem sempre são agradáveis. Descobri que estou cansada de tantos inícios e fins. Quando decido terminar, sinto que acabo com tudo. Com todas as histórias. É difícil encontrar o ponto de partida e começar de novo.

Já faz tempo, mas tive um fim e um começo trágico. Fugi de tantos e tantas vezes que havia esquecido como essa dor é corrosiva, o quanto ela consome do meu dia, da minha atenção. O quanto é ruim pensar em começar de novo, em fazer novas buscas e encontrar novos amores.

Nós podemos continuar assim. Entrar numa bolha de sabão e viver. Viver a espera de um vento forte, ou de um dedo metido pronto pra tocá-la e destruir nosso espaço.

Hoje meu medo de ficar sem você é maior que o medo de ficar com você.

terça-feira, 6 de outubro de 2009


Quero mais
Quero mais
É tão simples abusar do meu espírito ingênuo
Já passaram mil romances, caravanas, sentimentos
Desarvorados
Num tempo sublime
Do verbo amar.
Amarei aquele que chegou
Pra não partir jamais
Partiu
Agora eu quero mais

(Tão simples - Chico Buarque)